Almirante Walley

Té logo, Pai

Enquanto os outros miúdos da minha idade idolatravam algum artista do momento, eu tinha como referência e guias, pessoas da minha família... E uma dessas pessoas, como não podia deixar de ser, era o meu Pai.

Hoje é o dia do aniversário do meu pai.

Completaria hoje a sua octogésima volta ao Sol.

Uma idade a que sempre pensei, e tive esperança, de o ver chegar... e ainda mais além.

Infelizmente, isso não aconteceu.

O meu pai faleceu há pouco mais de um mês como ele sempre quis: junto da mulher, dos filhos e dos netos na sua amada quinta que o viu crescer e que ele desenvolveu à sua maneira para a tornar o que é hoje.

Teve vários trabalhos ao longo da vida, mas o campo e a agricultura foram sempre o seu refugio e onde se sentia bem. Não importava no que trabalhasse, voltava sempre ao campo onde era feliz.

Como todo o ser humano, teve os seus bons e maus momentos na vida... sendo o pior, a perda da minha irmã em bebé. Algo que ainda hoje me afecta e eu pouco mais de dois anos tinha na altura, pelo que nem consigo imaginar como o meu pai se sentiu...
A dor de perder uma filha bebé... ele, que sempre adorou todos os filhos, e que nasceu para ser Pai.

Sei que nunca a esqueceu porque tinhamos falado nela pouco tempo antes...
E no meu coração, sei que quando ele partiu, foi ter com ela...

Sempre presente na vida dos 3 filhos restantes, não havia nada que lhe desse mais prazer que juntar a família, em especial quando tinha a oportunidade de ter a presença dos seus dois irmãos também.

Não era perfeito, ninguém o é, mas tentou incutir valores morais e sociais nos filhos. Ensinou-nos a importância da Família, a respeitar os mais velhos e aqueles que são diferentes de nós, a viver honestamente e de consciência tranquila...
...e que o seu Sporting era o melhor clube de Portugal.

Adorava ser pai, e muito mais de ser Avô. Ainda chegou a ser Bisavô, e embora tenha passado pouco tempo com os bisnetos, também adorou cada momento que passou com cada um deles por muito breve que fosse.

Sempre o conheci com as mãos calejadas do trabalho mas mesmo quando cansado da jorna, adorava contar as suas histórias e o riso das crianças.

Podia não o demonstrar, mas sei que tinha um orgulho tremendo em cada um dos filhos, embora raramente o dissesse...

Apesar de ser mais parecido com o pai fisicamente e de possuírem o mesmo sentido de humor, era o jeito do meu irmão prá mecânica e seu talento inato como motorista que o meu pai mais se orgulhava nele. Tinha pena do meu irmão não aproveitar mais esses talentos para ter uma vida melhor.

Já a minha irmã partilha com o meu pai a personalidade, o ferver em pouca agua mas também o perdoar rápido e seguir em frente. Embora do que ele se orgulhava nela é da sua capacidade de navegar pela burocracia em especial quando se trata de assuntos hospitalares e de não guardar rancores, estando sempre pronta para ajudar mesmo aqueles que a magoaram antes.
Menina de papá desde que ele a pegou ao colo quando a ajudou a nascer, devido às personalidades parecidas havia muitas vezes que discutiam por ninharias e isso era algo que sempre desgostou o meu pai porque devido a essas discussões não passava tanto tempo com ela como desejaria.

Eu, no entanto, sempre pensei que o que tinha do meu pai era o ser sonhador mas descobri há pouco tempo que o meu gosto por cinema veio dele. Julgava que era algo da minha mãe mas dela veio o meu gosto pela leitura.

O meu pai é que afinal era o apaixonado por filmes. Muitas vezes, ele contou-me dos filmes que viu em novo mas nunca me tinha apercebido disso porque quando o conheci, isso era algo secundário para ele.

Quando nasci, o meu pai deixou de beber e fumar. Embora ainda o fizesse, passou a ser somente em ocasiões de festa ou algo assim.

Passou a viver para a família. Tentou ser um bom marido e pai.
Pela falta que a sua ausência nos faz, mostra que foi bem sucedido nessa empreitada.

E pela parte que me toca, não o trocava por nenhum outro por nada deste ou outro mundo.

Agora, como devem ter percebido, o meu pai raramente falava muito do que o orgulhava nos filhos à nossa frente, razão porque sei mais do que ele sentia pelos meus irmãos do que de mim... mas sei que ele se orgulhava da minha facilidade em aprender novos idiomas, do meu jeito para desenhar, e acho que em geral do meu gosto por aprender coisas.

Sempre foi alguém com quem pude contar e com quem podia falar de qualquer assunto que me preocupasse. Adorava as nossas conversas e é uma das coisas que mais sinto falta dele.

Ainda hoje existem momentos em que me esqueço que ele já não está cá e o procuro para lhe contar algo me tenha acontecido ou para pedir o seu conselho...

Pai...
Sinto a tua falta na sombra onde gostavas de descansar, na cadeira onde passavas horas junto dos teus animais, no banco onde debulhavas o milho, o grão e o feijão.
Sinto a tua falta em todos os momentos do dia.

Especialmente quando regresso a casa...

O meu Pai

Comentários

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  1. Que a estrelinha olhe por nós todos aonde ele esteja, cunhado
    e parabéns para o céu e um beijinho

    Teresa e mano Osvaldo

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